domingo, 2 de janeiro de 2011

LANÇAMENTO LITERÁRIO

LIRISMO CONTEMPORÂNEO

Por Carlos Herculano Lopes


Omar Abraão/Divulgação
Mariana Botelho mostra maturidade
e capacidade de diálogo

Bem além do artesanato, da boa música, do folclore e de tantas histórias para se contar – coisas típicas do Vale do Jequitinhonha – a cidade de Padre Paraíso, a 550 quilômetros de Belo Horizonte, tem também uma ótima escritora, a jovem Mariana Botelho. Com 27 anos, há algum tempo ela lançou O silêncio tange o sino, coletânea de poemas que, independentemente da estreia, a coloca entre os melhores autores de sua geração. Como não vive em BH nem no Rio ou São Paulo, por enquanto pouca gente a conhece.

No entanto, isso não impediu de a moça de ser descoberta pelos editores das páginas de literatura da Revista Ciência e Cultura, da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), na qual publicou seus primeiros poemas, que acabaram despertando o interesse da Ateliê Editorial. Antes havia feito circular alguns textos seus no seu site, Suave Coisa (www.quelevequenada.blogspot.com ) com o qual, desde as lonjuras sem fim de Padre Paraíso, fica conectada com o mundo. “Foi principalmente graças à internet que pude conhecer outros autores, descobrir novos caminhos, outras vozes, com as quais tenho me comunicado”, conta Mariana.

Vivendo na sua cidade, fora curtos períodos em que morou em Teófilo Otoni e Poços de Caldas, Mariana Botelho diz não se lembrar mais como começou sua história com a literatura, com a qual está envolvida desde muito nova. “Não venho de uma família de escritores, mas sempre vi em meus pais um gosto pelos livros. Quando tinha 12 anos, meu pai me apresentou a Machado de Assis e Fernando Pessoa, e daí em diante foi uma descoberta atrás da outra. Como sempre fui muito curiosa, as coisas foram jorrando”, diz. Atualmente, com muito gosto, ela anda lendo poetas portugueses como Eugénio de Andrade, Sophia de Melo, Nuno Júdice, Vasco Gato, Adília Lopes e David Mourão-Ferreira, entre outros. Mas também não deixa de citar o italiano Eugênio Montale, que é um dos seus poetas mais queridos.

Como todo autor que se preze, Mariana também tem seu método de trabalho. Mas com uma particularidade bem rara: ela quase não reescreve seus poemas. No seu caso, eles vêm de um jorro só. “Aprendi a deixá-los amadurecer dentro de mim. Acho melhor do que na gaveta. Às vezes, fico namorando um poema dias a fio, recitando em pensamento no meio da rua. Velando por ele como se fosse um filho, até ver que está pronto. Aí então o escrevo. Só que não sou de produzir muito”, conta.

Sobre como é viver em Padre Paraíso, Mariana diz que muita coisa a encanta por lá. Mas de uns tempos para cá a vida foi se encarregando de ir dissipando o apego e talvez até se mude. “Embora seja casada com a poesia, ultimamente ando me aventurando um pouco na prosa, vamos ver o que vai dar”, diz a escritora. Como boa filha do Vale do Jequitinhonha, ela costuma fazer também algumas peças de cerâmica.

Para Carlos Vogt, da Revista Ciência e Cultura, que prefaciou O silêncio tange o sino, “nas imensidões das Minas Gerais do Jequitinhonha, o silêncio que a poesia de Mariana Botelho ecoa é tenso de suave sensualidade e tenso ao tanger no sino dos poemas o som que ouvimos e que ele não produz”.

O silêncio tange o sino
De Mariana Botelho
Ateliê Editorial, 75 páginas, R$ 34. Informações: atelie@atelie.com.br

Fonte: Caderno Pensar, Jornal Estado de Minas, sábado, 01/01/2011

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