domingo, 6 de março de 2011

CARNAVAL EM CORINTO


Tradicional Sapo Seco em Corinto-1985
© Arquivo Tadeu Oliveira - Foto:


Por Tadeu Oliveira

O Carnaval de Corinto é, há quase 60 anos, considerado um dos melhores e o mais democrático da região, antes mesmo do de Diamantina tomar as proporções que tomou nos últimos anos, principalmente depois que passou a ser Patrimônio Cultural da Humanidade. Para se ter uma idéia, o Carnaval corintiano é do tempo em que o uso do lança-perfume foi comum no Brasil desde os anos 20 até ser proibido em 1961 por decreto do então presidente Jânio Quadros. Na época, a brincadeira dos foliões consistia em esguichar uns sobre os outros. O produto vinha embalado em frascos de metal dourado e ao toque na pele provocava uma sensação geladinha, agradável, perfumada e de rápida evaporação. Porém, estas brincadeiras foram dando lugar ao uso do lança-perfume como droga inalante em que as pessoas embebiam lenços com o produto e o aspiravam com o fim de ter sensações de euforia e torpor, o que causou inúmeras mortes por parada cardíaca, o que levou à proibição da fabricação e comercialização no país.

Ao que tudo indica, a tradição do Carnaval em Corinto tem suas origens nos Entrudos que aconteciam no tempo da Colônia e do Império e que no final do século XIX começaram a se popularizar pelas ruas centrais da cidade do Rio de janeiro. Quando os trilhos da Central do Brasil chegaram a Curralinho no raiar do século XX, não demoraria trazer através da Maria Fumaça as novidades da capital federal. Nas décadas seguintes, a força da era do rádio, a Época de Ouro da música brasileira com a renovação musical iniciada com a criação do samba, a marchinha e outros gêneros, o cinema falado, etc. iriam fortalecer o surgimento de foliões a desfilar pelos salões do Centro Operário e, posteriormente, dos Clubes Ferroviário e Corinto jogando confetes e serpentinas, além de esguichadas de lança-perfume.E pensar que houve época que, nos embalos de clássicos carnavalescos como “Lata D’água”, “Me dá uma dinheiro aí”, Máscara Negra”, Pierrô Apaixonado” e “Bandeira Branca”,  o preconceito racial imperava no Corinto Clube, que não aceitava nos seus quadros de sócios pessoas negras. Talvez isto seja a coisa mais estúpida que se tem notícia na história de Corinto.

Mas, logo o Carnaval ganharia os espaço democrático das ruas com o surgimento do famoso Sapo Seco de Ronê, Island Pereira, Dr. Humberto Alvarenga e Bandinha, dos blocos caricatos como o saudoso Urubu Malandro de Nica e Geraldo Brocó, o Bloco da Lídia e Cabeção e o Boi da Manta de “seu” Zé Rico, a Catirina de Fernando de Antônio Romão...  E com os blocos caricatos surgem as escolas de sambas: Os Magnatas da Vila com o seu tradicional amarelo e preto, Bocas Brancas de azul e branco, a meteórica verde-branca Acadêmicos do Samba Unidos de Infância e a caçula verde-rosa Cor Morena Brasileira. Escolas que traziam no batuque sincopado de centenas de ritmistas a alma brasileira. Algumas delas até arriscaram seus sambas de enredo. Os Magnatas de Vila teve como seu maior puxador de samba Florentino Barbosa...

O Sapo Seco, porém, é uma das maiores tradições do Carnaval de Corinto. Ele consiste de uma brincadeira em que os homens fantasiam-se de mulher e, anos mais tarde, as mulheres de homens e que tem como ápice lançar sobre quem passa de carro ou a pé esguichos de água e talco (em substituição ao lança-perfume), mas que nos últimos anos teve que ser abolida porque algumas pessoas de espírito maldoso começaram a exagerar jogando ovos, farinha de trigo, fubá e graxa. 

Bons tempos aqueles em que a família de Dona Neide, os "meninos" da Vila Maciel comandados pela família Benevenuto alegravam as batucadas nos butecos e bares de Corinto. Tocavam de tudo: samba de enredo das escolas do Rio, samba de partido alto e marchinhas de  carnaval... 

Bons tempos em que cada clube, tanto o Corinto como o Ferroviário, tinha a sua própria orquestra e na última noite, quando a Quaresma começava a despontar na madrugada da Quarta-Feira de Cinzas, uma saía de onde estava tocando e ia se unir à outra. E muitas vezes, quando a última visita era no Corinto Clube o povo ia para a rua do Footing dançar saudando o dia que clareava...

Da última década o século passado até os dias atuais, ritmos como funk e axé contribuíram para enfraquecer e desaparecer com os bailes nos clubes, como tem acontecido pelo Brasil afora. Mas, em Corinto, como numa volta no tempo, ainda há espaço para as antigas marchas que persistem em contagiar velhos e jovens.

E, como sempre, a “Rua do Footing”  continua a ser o local onde durante os 4 dias e 4 noites as  folias acontecem, entremeadas de um sol de quase 40 graus e  altas noites etílicas, porque todos os caminhos levam para lá. E este cenário contagia o povo de Corinto que passa dançando e cantarolando, ao ritmo dos sons modernos e das marchinhas imortais numa tranqüilidade que impressiona os visitantes que sempre voltam nos anos vindouros.

Em parceria com a administração municipal, o povo hospitaleiro e festeiro está resgatando as raízes e adaptando estes eventos aos tempos modernos e, com isto, mais pessoas chegam prestigiando as festas corintianas.

3 comentários:

  1. Excelente essa materia. Ajuda muito a nós, pais.

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  2. Oi Cláudia,

    creio que vc pretendia comentar a matéria "Bandas discutem cultura de massa e cenário em mutação", não? rsrsrs
    De qualquer forma valeu o comentário.
    Beijos Gerais!!!
    Inté, uai!!!

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  3. Tadeu, que matéria linda sobre o carnaval de Corinto, Parabéns! Manda pra mim esta foto por favor?!?!?!?! Toninho me passou seu blog e já te segui. Bjs, Cláu Iglésias

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