quarta-feira, 10 de agosto de 2011

LIVRO "GERAES" É UMA REALIDADE NO JEQUITINHONHA

Por Tadeu Oliveira


Cumprindo com o cronograma proposto e divulgado neste e em diversos outros blogs, apesar de não ter acontecido em Diamantina por dificuldade de articulação local, os fundadores do Jornal GERAES Tadeu Martins, Aurélio Silby e George Abner lançaram na noite de terça-feira, 09, o livro “GERAES – A realidade do Jequitinhonha”, na cidade de Turmalina.


Público presente

A sede do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Turmalina recebeu um público que, embora pequeno, recebeu com expectativa e alegria o tão esperado livro. Além de diversas pessoas que atuaram e atuam no movimento cultural e social da cidade anfitriã, havia gente de Veredinha, Chapada do Norte, Minas Novas e Capelinha representando diversas entidades. O Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Capelinha e Angelândia esteve representado pelo Secretário Geral Expedito Peçanha de Oliveira e pelo funcionário Carlos, enquanto eu representei o programa/blog Canta Minas e o Coral Vozes das Veredas, da cidade de Veredinha MG.

Ênio e Julinho
Por volta das 19h30, o evento foi aberto por uma cantoria feita pelos turmalinenses Ênio e Julinho. Em seguida, formou-se a mesa com a presença de representantes das entidades locais,  do economista Aurélio Silby (Ponto dos Volantes), do jornalista Geroge Abner (Pedra Azul) e do engenheiro e contador de ‘causos’ Tadeu Martins (Itaobim), todos fundadores do jornal Geraes há mais de 30 anos, juntamente com Carlos Figueiredo, que não estava presente.


Aurélio Silby
Os três fundadores presentes fizeram o uso da palavra e Aurélio Silby discorreu sobre a fundação do jornal quando, em 1978, ele, Tadeu Martins, Geoge Abner e Carlos Figueiredo juntaram “as ideias e as conversas” e resolveram “fundar um jornal para o Vale do Jequitinhonha que não fosse um jornal qualquer”, mas  “um contraponto, uma alternativa, algo novo que abrisse espaço para as pessoas que moravam no Vale, que viviam aqui no Vale”, embora os fundadores não vivessem na região por terem ido morar em Belo Horizonte para dar continuidade aos estudos.

Aurélio lembrou ainda que, no início, eles não tinham uma ideia muito clara sobre o caminho que o jornal tomaria, mas lembrou que já haviam certos princípios básicos e o primeiro deles era a independência política; o segundo, era abrir espaços para que as pessoas do Vale pudessem ocupar, utilizando o jornal para se manifestar, reivindicar, protestar, divulgar as lutas sociais e políticas e as suas expressões culturais.  Lembrou também das dificuldades iniciais, que passavam pelas finanças, pela necessidade de se construir uma forma organizativa e pela falta de periodicidade do jornal.

 
George Abner
O jornalista George Abner afirmou que o GERAES foi “uma ideia e continua sendo a ideia de uma sociedade livre, de uma sociedade que construa uma igualdade que não seja essa imensa diferença que ainda é o nosso país, com 10 milhões de miseráveis e pobres... ou muito mais... claro que depende dos pobres e dos oprimidos para construir essa sociedade, não devemos ser paternalistas. (...) A luta do GERAES é uma ideia a ser construída com a participação de todos”.  

Mas o ponto forte do discurso de Abner ocorreu quando lembrou da luta empreendida por Vicente Nica, um camponês que se tornou um atuante líder sindical da cidade de Turmalina ao lutar pela terra no momento em que as chapadas do alto e médio Jequitinhonha eram ocupadas pelo eucalipto.

A lembrança da figura emblemática de Vicente Nica levou George Abner a se emocionar ao afirmar, como os olhos cheios de lágrimas: “O Geraes não existiria sem Vicente Nica. Ele é parte de Turmalina... Vicente Nica significa este sindicato, as terras de são Miguel e Mato Grande... significa o CAV... significa uma mudança na estrutura de poder dessa cidade. Então, não podemos esquecê-lo, mas principalmente a sua ideia de uma sociedade justa, que ele viveu e lutou por ela. Não é nenhum sentimentalismo, mas uma lembrança para que a cidade de Turmalina saiba disso. Ele foi a base disso, foi a base de trazer um pensamento novo para uma sociedade nova. Não faço uma homenagem póstuma, pois o seu pensamento está vivo”.


Tadeu Martins
Em seguida, Tadeu Martins lembrou porque nasceu o GERAES: “nos preocupava muito naquele período negro que a ditadura militar massacrava o povo, impedindo sua organização... a exploração era muito grande... a miséria andava solta, o Jequitinhonha era conhecido como Vale da Miséria, Vale da Fome, Vale do Marcha-ré... Eram os nomes que o Jequitinhonha tinha e nos intrigava muito como uma região tão rica (...) vivia com um povo tão pobre, tão oprimido e massacrado por um poder que massacrava toda sociedade brasileira... mas aqui no Vale a miséria era tão grande numa região tão rica, (...) [e ainda] hoje uma das regiões mais ricas do Estado e importante em todos os aspectos”.

Dito isto, Tadeu Martins discorreu sobre a história de Minas Gerais e da região, passando pelo garimpo, pelo genocídio dos índios da região, falou do rio e da barragem de Irapé, lembrou das estradas com asfaltos por fazer há mais de 40 anos e terminou reivindicando:  “que haja um respeito maior com essa região e mais organização para haver este respeito”.

Logo após, a equipe de produção do livro GERAES distribuiu diversos exemplares para as instituições e entidades presentes, cujos representantes fizeram o uso da palavra franca.



        Hugo Jansen (Mov. Cultural), Elias Nica (filho de Vicente Nica),
     Aurélio Silby, Tadeu Martins, José Antonio de Andrade (FETAEMG),
                                    Boaventura (CAV) e George Abner

POR QUE O PROJETO DO LIVRO?

Jane Orsine
Os idealizadores do projeto são unânimes em enumerar que se deve a: 1º) todas as edições do jornal se perderam; 2º) porque na memória de grande parte das pessoas não há mais o registro desse momento em que o jornal esteve presente no Vale, de 1978 até 1985; 3º) resgatar as edições para passar às novas gerações esse momento importante para a História regional e, 4º) oferecer ao Vale do Jequitinhonha esse documentário histórico.

Dr. Hugo Jansen

Em novembro, os produtores do jornal passaram por diversos lugares do Vale com o objetivo de fazer uma edição nova do jornal com o objetivo de se fazer uma comparação crítica do passado com o presente. Diante disso, Tadeu Martins, Aurélio Silby e George Abner esperam que se cumpra o objetivo proposto pelo jornal desde a sua fundação, que é o de servir ao povo do Vale  como ele sempre serviu, agora como um processo de estudo, de reflexão, bem como a análise de sua importância nessa trajetória.

Uma coisa é certa: o GERAES foi importante ao retratar em suas páginas os assuntos mais importantes para o Vale naquele momento da história. O jornal teve papel fundamental no surgimento de diversos sindicatos rurais, a exemplo do Sindicato de Turmalina. Poetas, músicos, escritores tiveram voz através do jornal. E assim sendo, foi uma das células para o surgimento do Festivale.



Expedito, Noraldino e Carlos

Tadeu Martins, George Abner, Tadeu Oliveria e Aurélio Silby

Para saber sobre a programação de lançamento nas cidades do Vale, acesse: http://cantaminas.blogspot.com/2011/08/vem-ai-o-lancamento-do-livro-geraes.html

 Para saber mais sobre o Jornal Geraes, leia artigo escrito por mim neste blog, intitulado Jornal Geraes: veículo de resistência, denúncia e cultura ou acesse o blog do Jornal Geraes: http://blogdogeraes.blogspot.com/ .

Fotos: Tadeu Oliveira

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