O "Caipira do Mundo" Chico Lobo mostra a força da viola em parcerias de luxo
Por: Guilherme Bryan, especial para a Rede Brasil Atual
Basta ouvir os primeiros acordes do CD “Caipira do Mundo” para se contagiar e encantar com a voz, a melodia e a viola de Chico Lobo, penetrando nos recantos mais profundos do interior do Brasil, e retomar uma memória afetiva comum à maioria dos brasileiros. Nascido em São João del-Rei (MG), em 26 de fevereiro de 1964, ele é um dos maiores e mais ativos instrumentistas do Brasil, desde que gravou o primeiro álbum em 1996, "No Braço Dessa Viola". “Sou filho de mãe mineira / Meu pai é de Minas Gerais / Sei rezar latim pro nobis / Sou primo do Preto Brás”, indica na ótima canção “Cantiga de Caminho”, parceria com Ricardo Aleixo e que conta com a participação especial da cantora Virginia Rosa. E completa: “Desde menino eu misturo / O antes, o agora, o depois / Sempre que posso eu passo / O carro à frente dos bois”.
Chico Lobo é um grande propagador da viola no Brasil (Foto: Marcos Hermes/Divulgação) |
“Caipira do Mundo” levou quase três anos para ser finalizado, uma vez que foi gravado de fevereiro de 2008 a julho de 2010, e apresenta parcerias de Chico Lobo com grandes nomes da música brasileira. A produção é de Guilherme Kastrup, que toca percussão em quase todas as faixas. Logo a primeira canção, “A Mais Difícil Opção”, composta com Alice Ruiz, já demonstra toda a força do trabalho de Chico Lobo, o que se confirma na excelente “Tristeza do Culto”, parceria com Chico César. Dê atenção especial à doce “Eu Ando Muito Cansado”, assinada com Arnaldo Antunes e que é quase uma cantiga infantil; e a “Pássaro de Alma”, união de dois mais inventivos músicos brasileiros da atualidade – Chico Lobo e Siba, líder do espetacular grupo pernambucano Siba e a Fuloresta.
Cantada com a portuguesa Susana Travassos, que busca aproximar a música lusitana da brasileira, “Morena de Minas”, parceria com Zeca Baleiro, é digna de constar de festas juninas ao redor do país e possui uma letra arrasadora: “Toda vez que eu viajava / Pela estrada de Ouro Preto / Eu olhava uma morena / Que me olhava de um jeito / Morena dengo de Minas / Flores no cabelo dela / Num dia rosa vermelha / No outro flor amarela”. Zeca Baleiro também participa dos vocais de “Pra Onde Eu Tava Indo?”, composta por Chico Lobo e Maurício Pereira.
Com arte gráfica formada pelos lindos graffiti do Beco do Batman e do Beco das Cores, na Vila Madalena, em São Paulo, o sétimo álbum solo de Chico Lobo conta com parcerias empolgantes dele com Sérgio Natureza (“Canto e Cântaros”), Vander Lee (“Quando Falta o Coração”), Vítor Ramil (“Cantata”, que conta com a presença do acordeon de Toninho Ferragutti e a viola de aço de Fábio Tagliaferri) e Verônica Sabino (a linda balada “No Fio do Olhar”, com a participação de Zé Geraldo). Esta cantora participa nos vocais de “No Fim da Rua”, parceria de Lobo com Fausto Nilo. Tal diversidade de parcerias só comprova a força e a versatilidade do violeiro. Portanto, escutar esse CD é mergulhar no que há de melhor nas raízes brasileiras, em contato direto com o que se produz de mais significativo na atualidade. Para encerrar, nada melhor do que uma fantástica gravação instrumental de “Dois Rios”, que une os mineiros Samuel Rosa e Lô Borges com o paulistano Nando Reis.
Autor do jingle oficial da eleição de São João Del-Rei como Capital Brasileira da Cultura em 2007, Chico Lobo faz parte da linhagem de nomes importantes como Almir Sater, Renato Teixeira, Pena Branca & Xavantinho, Milionário & José Rico, que enriqueceram e ajudaram a dar brilho à denominada “música sertaneja” ou “música regional”, sigla tão vazia como várias músicas do denominado “sertanejo universitário”. Mas, além da música, ele é um importante divulgador da viola no Brasil, por meio de trabalhos como o pioneiro DVD “Viola Popular Brasileira”, artigos na revista “Viola Caipira” (onde mantém coluna fixa) e nos programas de rádio “Canto da Viola” (na Rádio Inconfidência) e de televisão “Viola Brasil”. Agora ficaremos aguardando, como anunciado por Zeca Baleiro em “Pra Onde Eu Tava Indo?”, os bailões diários no vão livre do Masp, em São Paulo.
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