Fernando
Brant
Chovia,
na estrada e na cidade. Voltar à terra em que passei parte importante da
infância é sempre bom para mim. Ainda mais que a maioria das casas, das ruas e
o cenário pouco mudaram,passados tantos anos.Essa é a vantagem de se viver em cidades
tombadas pelo Patrimônio Histórico. O certo é que sempre que posso, e posso
menos do que mereço,pego o carro e me dirijo às pedras capistranas de
Diamantina.
O
motivo desta vez era o Diamantina Gourmet, festival gastronômico que se realiza
ali por duas semanas. Os diamantinos são muito criativos, não gostam de copiar o
que existe.Assim é que, ao contrário de muitas festividades desse tipo, em que
se costuma chamar os grandes mestres da culinária para exibir seu saber na arte
de cozinhar, ali se partiu de um outro princípio.
Os
mestres foram convidados, com antecedência,para ministrar cursos para os profissionais
de lá.O intercâmbio trouxe o conhecimento de fora, que foi incorporado às
habilidades próprias da gente do lugar. Os vários restaurantes do velho Tijuco podem
agora nos presentear com o sabor e a riqueza da insuperável cozinha mineira,
acrescida da ciência que se adquiriu nos cursos. O Clube da Esquina foi o
homenageado da festa deste ano.
Um
dia, estava eu quieto em minha casa em Beagá, e fui acionado pela Mariana, da
Pousada do Garimpo. Ela tinha escolhido uma música, San Vicente, minha e do
Milton, para ser o tema do prato que ela queria oferecer aos convidados. Conversamos
sobre a letra e, findo o telefonema, fiquei imaginando como ela resolveria em
comida o que dissera em palavras a respeito de um tempo conturbado do nosso
continente sul-americano. Ela me surpreendeu agradavelmente, juntamente com o
chef Vandeca, com a compreensão do sentido mais profundo da canção: a
integração entre os povos aqui do nosso lado da América,mensagem implícita, em meio
à dor daquele tempo.
Coma
chuva e o frio me dediquei às melhores qualidades de Diamantina: bebida,
comida, amizade e música. O meu prato ficou supimpa. Entrada: ceviche peruano
agregado aos nossos surubim e abacate manteiga e insumos orgânicos. Prato principal:lombo
ao vinho com virado de quinoa (originário do Peru, Colômbia e Chile) e couve mineira
e batatas ao molho huncaina da Venezuela. Na sobremesa, quiseram se alimentar
de nós. Fernando, Milton e Mercedes Sosa foi o nome que deram à combinação de
doce de leite, queijo, compotas e pastelzinho.
Até
domingo você pode ir até lá, curtir Diamantina e comer outras delícias como a
esfiha de carne moída e ora-pro-nóbis. Recomendo essas e outras alegrias
diamantinas.
P.S.:
Diante de minha queixa, a Copasa veio à minha casa e resolveu todas as questões
expostas por mim na semana passada. Eles estão alertas e eu satisfeito.
Fonte: Caderno EM Cultura, Jornal Estado de Minas, 14/11/2012.