sexta-feira, 12 de novembro de 2010

CAUSO 02: A PRIMEIRA CHUTEIRA

A PRIMEIRA CHUTEIRA

Tadeu Oliveira

Geraldo Pé Roda nasceu e foi criado praticamente dentro do campo do Guarany Atlético Clube. Desde pequeno, já engalobava a mãe dizendo que ia catar gravetos para acender fogo e fugia para o campo. Foi lá que ganhou o apelido. Sempre que treinava com a turma, costumava chutar a bola de bicuda e ela saia rodando, dando capotes sobre si mesma, rente ao campo de terra batida. Daí, a turma começou a chamá-lo de Pé Roda. Consequentemente, a inabilidade com a bola o levou a assumir a titularidade do gol no segundo quadro do alvinegro corintiano.
Naquele tempo, a rigorosidade dos pais era demasiada e com dona Luíza, mãe de Geraldo, não era diferente. Família por criar, ela preferia que os filhos trabalhassem para ajudar em casa ao invés de ficarem correndo atrás da bola. Além disso, os times não tinham condições de ajudar os jogadores e muitos deles tinham que comprar seu próprio material, o que ela achava um desperdício.
Geraldo Pé Roda trabalhava de servente de pedreiro e entregava todo o dinheiro para a mãe. Quando precisava das coisas ela passava a quantia necessária, mas tinha de saber timtim por timtim para que era aquele dinheiro.
Certa ocasião, o sapato de Geraldo furou e ela retirou uma quantia do dinheiro guardado e mandou que ele fosse lá na loja de fulano de tal comprar um calçado. Como o sonho de Pé Roda era ter a sua primeira chuteira, tentou dobrar a velha na tentativa de comprar um par no lugar do sapato. Após muita conversa ele conseguiu botar na cabeça dela que aquilo era um calçado moderno que poderia ser usado em todas as horas, em qualquer situação, sem nenhum problema. E assim, depois de muita luta Geraldo chegou em casa com o tal calçado.
Naquela época, ir à missa todo domingo de roupa de linho e paletó era obrigação de toda família cristã e temente a Deus. Dona Luíza, católica fervorosa, convocou a família para a missa dominical e tomou o rumo da igreja matriz tendo os filhos a acompanhá-la. Geraldo, que  seguia mais atrás todo arrumado e calçado com a chuteira, andava como se tivesse a pisar em ovos para ninguém desconfiar de nada. Quando entraram na igreja que se encontrava num silêncio sagrado foi que a coisa desandou. A chuteira fazia o maior barulhão: crap... crap... crap... o que levou os fiéis a se virarem  para verificar de onde vinha aquele barulho esquisito.
À medida que Geraldo adentrava o templo religioso percebeu que aquilo escorregava como quiabo e num átimo...  bufff!!! Escorregou e caiu sentado no chão.
Dona Luíza, vendo a cena,  ficou possessa. O mínimo que ela fez para amenizar a vergonha e o prejuízo foi ordenar a Geraldo que cortasse as travas da chuteira.
A partir daquele dia, a primeira chuteira de Geraldo Pé Roda ficou sendo o seu calçado de passeio e de jogar bola.

Adaptação feita por Tadeu Oliveira sobre entrevista concedida por Geraldo Fernandes (vulgo, Geraldo Pé Roda) a Maurílio Xavier no Jornal O Panorama, edição 56 de novembro de 2008, Corinto MG.

5 comentários:

  1. GOSTEI TADEU, E EU JURO QUE ACHAVA QUE O APELIDO ERA DEVIDO AO FORMATO DO PÉ E NÃO PELA FORMA COMO CHUTAVA A BOLA. VALEU!

    ABRAÇOS, CLOVINHO

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  2. Ê mano veio a minha inabilidade com essa tal internet, me fez ver só agora essa sua obra de arte. E ficou foi bom viu! Pena que fui ver em um momento muito difícil pra todos nós, amigos e parentes deste senhor, que dispensa qualquer comentário a seu respeito. Simplismente um grande exemplo pra todos nós! Que ele descanse em paz e Deus abençoe toda familia.

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  3. É mano véio, a minha inabilidade com a tal Internet, me fez ver só ágora essa sua obra de arte. E ficou foi bom viu. Pena que fui ver só agora neste momento tão doloroso pra todos nós parentes e amigos deste senhor que dispensa qualquer comentario a seu respeito. Simplismente um exemplo pra todos nós. Que ele descanse em paz e Deus abençoe e conforte toda família.

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  4. É mano véio, a minha pouquíssima habilidade, com a tal da internet, não me deixou ver antes o seu blogger, e consequentemente, essa sua obra de arte no causo de senhor Geraldo Fernandes. E ficou foi bom viu!

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