Há exatos 11 anos, no dia 07 de maio de 2000, eu assumia o comando do programa Canta Minas no lugar do jornalista Tico Neves. Naquele já distante domingo de maio, Tico abriu o programa exatamente como sempre fez durante os 06 anos que apresentou o Canta Minas diariamente das 13 às 14 horas para logo em seguida transferir no ar a locução para mim.
Lembro-me que estava bastante tenso, com aquele famoso friozinho na barriga. Quando Tico me passou o comando do programa e a luz do meu microfone se acendeu sinalizando que eu já podia entrar no ar ao vivo, com a voz embargada de emoção, foram estas as minhas primeiras palavras: “Olá! Boa tarde pra você amigo e amiga ouvintes dos Vales do Jequitinhonha, Mucuri e Rio Doce. Sou o Tadeu Oliveira e peço a sua licença para adentrar a sua casa e levar até você mais um Programa Canta Minas, o Som das Gerais, num oferecimento da Farmácia Cônego Lafaiete que traz pra você o melhor da música mineira e também qualidade de vida”.
De lá para cá, durante nove anos e seis meses, foram estas as palavras com as quais abria o Canta Minas todos os domingos, apenas com uma pequena modificação. Supri a frase “adentrar a sua casa” porque, diante de algumas brincadeiras de amigos, pareceu-me que ela não havia soado bem.
O desafio de substituir Tico Neves foi logo sentido. Certa feita, uma estudante da rede pública de Capelinha questionou-me sobre o repertório musical do programa, oportunidade em que eu argumentei da seguinte forma: “Veja bem: a semana tem 07 dias. Cada dia 24 horas. Sou seja, a semana tem exatamente 168 horas. Se considerarmos que a programação da rádio toca em média umas 140 horas das músicas que você gosta, não acha que há um certo egoísmo de sua parte em não permitir que um número significativo de pessoas que não curtem o que você curte, possam ter um momento ainda que seja de apenas uma hora para ouvir a preferência musical deles? Além do mais, há espaço para todo mundo e por que não, ainda que minimamente, atender o gosto da “minoria?”
Destaque Cultural/2002 |
E assim, a cada domingo eu fui conquistando a simpatia de novos ouvintes. A comprovação de que o programa passou a ser bem aceito sob meu comando deu-se quando fui eleito como destaque do ano de 2002, na área da cultura, em pesquisa feita pela ACIAC - Associação Comercial, Industrial e Agropecuária de Capelinha e a Rádio Aranãs FM.
Nos primeiros quatro anos, criei alguns quadros novos para incrementar o programa. Assim, a jovem adolescente Klimeny Kandacy Oliveira Santos declamava poesias e poemas de poetas consagrados e de poetas regionais no “Momento Poético”. Novamente dei a oportunidade a um outro jovem, o Juvenal Cordeiro Filho, de participar do quadro “Mutirão Ecolólgico”, com dicas de pequenas coisas que a gente pode fazer para preservar o meio ambiente.
Teve ainda o quadro “Afinando a Língua”, onde o professor José Carlos Machado com dicas úteis e interessantes sobre a nossa língua, tornando-se um grande sucesso junto aos ouvintes e os quadros “Curiosidades”, que divulgava as peculiaridades de nossa terra seja na música, política, história, arte, enfim, em todo universo das Gerais, e “Caminhando pelas Gerais” revelando o universo das belezas históricas e naturais de Minas ao dar dicas turísticas.
Mas a participação mais longeva e que se adequou como uma luva ao programa Canta Minas foi o meu grande amigo e companheiro de todas as horas, o “seu” Geraldo Pinheiro, fazedor de violas caipira e de rabecas. Luthier de mão cheia, ele diz que sequer sabe afinar uma viola. A participação de seu Geraldo deu uma outra dinâmica ao programa. O seu jeito simples de ver e encarar a vida permitiu que o programa se tornasse ouvido tanto por pessoas simples da zona rural quanto por um grande contingente urbano principalmente constituído de funcionários públicos e famílias inteiras.
Tadeu Oliveira e "seu" Geraldo Pinheiro |
Além disso, o sucesso do programa extrapolou as fronteiras de Capelinha ao conquistar ouvintes fiéis em Carbonita, Turmalina, Minas Novas, Angelândia, São Sebastião do Maranhão, Aricanduva, Leme do Prado, Serro e até em Belo Horizonte através da internet. Aliás, com o advento da internet o programa passou a ser ouvido em diversos lugares de Minas, do Brasil e do mundo.
Mas o papel mais importante do Canta Minas foi justamente o de dar visibilidade aos artistas mineiros que são desprezados pela mídia de massa e pela maioria das rádios interiornas, que priorizam o axé, funk, sertanejo. Artistas como Vander Lee, Selmma Carvalho, Trio Amaranto, Yuri Popoff, Bilora, Pedro Morais, Titane, Sanduka, Kadu Viana só para citar alguns, sempre fizeram parte da programação musical do Canta Minas. E, claro, artistas do Vale do Jequitinhonha como Rubinho do Vale, Paulinho Pedra Azul, Tadeu Franco, Carlos Farias e outros consagrados pelo Clube da Esquina sempre se fizeram presentes.
Marcela Viana se apresentando no show dos 4 anos do programa |
E não se pode esquecer a força que o programa sempre deu aos artistas locais e regionais. Nomes como Rodrigo Pires, Marcela Viana, Nenka, Verono, Walter Dias dentre outros também tiveram seu espaço. Tal fato se reflete na forma como diversos jovens da cidade de Capelinha se referem à minha pessoa como “pai cultural”.
Desde dezembro de 2009 que o programa está fora do ar. Este fato se deu porque durante cerca de 04 anos eu enfrentei uma maratona muito desgastante. Além de atender semanalmente corais nas cidades de Curvelo, Itamarandiba, Turmalina e Veredinha, o programa de alfabetização de jovens e adultos Cidadão Nota Dez me exigia e exige dedicação extrema. E para complicar ainda mais a situação, dedicava os finais de semana para cursar da faculdade. O único dia que me sobrava para descanso era justamente o domingo, dia do Canta Minas.
Aproveitando um trabalho de formação de alfabetizadores no Piauí em dezembro de 2009, resolvi dar um tempo para recarregar as baterias e cuidar da vida pessoal e afetiva. O tempo passou e já se foram um ano e seis meses de descanso. Durante todo esse tempo recebi diversas manifestações de carinho e apreço pelo programa e o pedido para que ele voltasse ao ar. Mas isso é uma outra história que, se depender de mim, não está descartada. Quem sabe? Afinal, se se contabilizar os 09 anos e seis meses que estive à frente do programa como os 06 anos comandados pelo Tico Neves, o Canta Minas contabiliza 15 anos e seis meses no ar. Pena que fiquei este tempo parado, porque senão seria 17 anos.
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