sexta-feira, 12 de agosto de 2011

CORINTO CARREGA MUSICALIDADE NA SUA ESSÊNCIA

Corinto é uma cidade que traz musicalidade na sua essência. Estão lá gravadas na memória do nosso povo as marcas indeléveis dessa musicalidade

Por Tadeu Oliveira





Corinto é uma cidade que traz musicalidade na sua essência. Antes, paragem de tropeiros, a partir do início do século XX, quando os trilhos da Central do Brasil faziam o mesmo papel que a internet hoje faz ao trazer as novidades da então capital federal, o Rio de Janeiro, com certeza o pequeno arraial já sofria influências musicais advindas de Diamantina e dos Montes Claros. Estão aí as marcas indeléveis do que afirmo no Carnaval, na banda de música e na seresta corintiana.  

João Júlio tocando sax
Foto: Arquivo da família Silva



Quem nunca ouviu falar de João Júlio da Silva, maquinista diamantinense que aportou em Corinto na década de 20? Além de tocar na banda de música, tinha um conjunto de jazz. São contemporâneos de João Júlio da Silva os músicos Zé Raimundo (que mais tarde tornaria-se sinônimo da Associação Musical de Menores quando seu dirigente máximo), Dete do Bandolim (Iodete Pereira), o ex- ferroviário e trombonista de vara Zé Catarino, o pandeirista Moacir Tatu e o trombonista de vara Moacir Caldeira Brant. João Júlio da Silva era exímio tocador de saxofone, acordeom e pandeiro e deixaria o seu legado aos filhos Irene Gonçalves da Silva e Geraldo Gonçalves da Silva, o Tuzinho.

Outro nome importante para a história musical de Corinto é o de Chico Fogueteiro, criador da primeira Folia de Reis em Corinto, influenciando novos foliões. Chico Fogueteiro teria sido ainda, um dos primeiros seresteiros da cidade. Exímio violeiro, Chico ainda trouxe o Guaiano (conhecido também como cateretê ou catira) para a cidade. Logo se casou e veio a constituir enorme prole que no futuro iriam constituir importante núcleo de músicos e cantores na cidade até os dias atuais.
Em fins da década de 40 e início da de 50, muitos eram os “artistas” em Corinto, a maioria ferroviários: Zé Canela (José de Andrade), Zé Efigênio, “Seu” Biduca (Orozimbo Rodrigues), Abel Macaco (Abel de Freitas). Todos cantores. E os violonistas Tino Maria Branca, Geraldo Cangalhinha, Julião da Sinuca, Raimundo Leão.


Banda do Centro Operário anos 50
Foto: Arquivos da família Silva


Nos anos 50, a Banda do Centro Operário é comandada pelo maestro e instrumentista João Nepomuceno e o maestro Delduque, sargento reformado da Polícia Militar do 3º BPMG - Diamantina, a Banda da Prefeitura. Muitos são os músicos integrantes das mesmas: Chico Dunga, Raimundo Azevedo, Pacheco, Crispim, Zé Raimundo Pingo e Zé Alonso. É nesta década que a televisão chega ao Brasil, o elepê de 33 rpm, o rádio tem sua época de maior prestígio e na música as novidades são o baião e o surgimento da bossa nova que revolucionou a MPB na década seguinte.

A efervescência cultural dos anos 60 tem reflexos imediatos em Corinto: dona Laís de Paula, esposa de um funcionário do Banco do Brasil, pianista e maestrina incentiva a criação de um Grupo de Serestas que tinha como base filhos de Chico Fogueteiro. No ano de 1967, na missa e festa posse do então prefeito Dr. Hugo Ferreira Machado e com tal apoio do mesmo, o Grupo de Seresta estréia tendo Dico de Violeta como regente. Nas décadas seguintes o Grupo de Seresta passaria a contar com o apoio de Dr. Raimundo Lima que emprestou o nome ao grupo e financiou via prefeitura a gravação de diversos LPs.

Grupo de Seresta de Corinto



Na segunda metade da década surgem os famosos festivais da canção da televisão e nomes como Edu Lobo, Chico Buarque, Caetano Veloso, Gil, Milton Nascimento, Jair Rodrigues, Geraldo Vandré, Maria Betânia, etc. Os Beatles já é uma unanimidade no mundo e os baianos revolucionam a MPB com o Tropicalismo. Em Corinto alguns jovens, influenciados por tantos acontecimentos revolucionários e pela repressão recém-instalada através do regime ditatorial, criam um conjunto musical que se tornou a grande sensação da região, fazendo bailes memoráveis: o Corinthians Boys. Composto por Tião do Sax, Juca do Piston, Pitucha depois Dim de seu Hélio na bateria, Aroldo de Seu João dos Santos no vocal, Afonso Guelão no contra-baixo, Raimundo Macedo na guitarra o Corintihans Boys resistiria até o final dos anos 70 e tendo as seguintes pessoas passado pelo conjunto: Antônio e Joãozinho Macedo, Vitrinho Viana, Omar e Odimar de Beijo, Goiaba e Niltinho, estes dois últimos oriundos de Sete Lagoas.  Nos últimos anos, o Corinthians Boys passou a se chamar San Remo.

Por esta época e na esteira do sucesso do Corinthians Boys surgem mais outros dois conjuntos: O Bagdás, composto por Pedrinho de Alú, Ramiro, Wilson só para citar alguns e o Hijos de la Madre que tinha Brício Mendes (Camilo) à frente.

A década de 70 e boa parte da de 80 é recheada de inúmeros boêmios, seresteiros e grupos de serenatas seja nas pracinhas da cidade, nos bares e botequins e, também, nos cabarés (zona do meretrício). Alguns nomes marcaram época e influenciaram várias gerações: Geraldinho de Olegário, Chicão Paia Preta, Tino Barbosa, Zezinho Cabaré, Ailton Alonso, Valdir Barbeiro e seu irmão Jair Seco, Raimundo Gole, Aroldo e Mauredson filhos de “Seu” João dos Santos, Hélcio de Ismael, Berico e Márcio de Antônio Romão, Zeinha, Marta Rocha, Edson Cachacinha, Zé Aniceto, Diquinho Coelho, Demizinho Alonso, Delson Caolho, Caraolho.


I Fecor - 1980: Valério, Tadeu, Dalton, Zé Maria e Tié ao fundo
defendendo a música Reencontrao
 


Presença do público nos festivais dos anos 80

Os anos de 1980 ficaram marcados por inúmeros acontecimentos: o surgimento do FECOR – Festival da Canção de Corinto, o uso do som mecânico nos clubes da cidade sob a influência das discotecas dos grandes centros urbanos e a popularização das mesmas através da novela global “Dancing Days” e pelas serestas realizados em inúmeros bares da cidade. Os nomes mais expressivos dessa época são: Didi Alonso, Demóstenes e Edite, Geraldinho de Olegário, Maurílio Viana, Mauro Lopes (Viana), Beto Negrete, Negrete, Iodete Pereira (Dete do Bandolim), Nego do Acordeom, Ailton Alonso, Zeca Careca, Edson Braziolli, Dico do Bco. do Brasil e Violeta, Tasso Alvarenga, Valter Cigano, Raimundo Leão e seus filhos Adilson Machambre e Neném, Jorge Patrício, Márcio Cigano,  Zé Miro, Eduíno Filho, Plínio Silva, Toninho Rocha, Renato Oliveira, Welton Ribeiro, Zé Maria Pereira, Taquinho Leal, Rubem Vasconcelos, Grupo Portal do Sertão, Marina Silva, Roberval, Toninho e Roberto Iglesias, Elvino Pita Louredo, Giovani Damásio, Marcelo Caldeira, Fabrício Simões, Zé Pereira  dentre muitos outros.

 
Fabrício Simões (um dos idealizadores do Vagão), Marcelo Caldeira
e o Grupo Faces  faturando o 3o. lugar no Fecor/88
com a música Teu Nome

Sou contemporâneo de diversos artistas citados acima. Com alguns deles dividi serenatas, cantei em bares e palcos, em banco de praça.... aliás, banco de praça e violão é o que não falta em Corinto. A cidade oferece pelo menos umas 10 praças para que a população e principalmente a juventude, possam dedicar-se ao lazer. E o violão sempre foi um companheiro de todas as horas, como atestam os organizadores do Vagão Musical na pagina de seu blog: “Houve um tempo em que as pessoas saíam de suas casas com violões e encontravam com amigos para tocar, cantar e se divertir. Não era raro encontrar grupos tocando suas canções favoritas pela cidade de Corinto. Quem chegou há pouco, nem consegue imaginar como a música já fez parte desse lugar”.

Essa última geração, influenciada pelo Festival da Canção de Corinto – FECOR, resolveu criar um projeto onde pudesse juntar toda essa cambada que gosta de fazer música num projeto chamado  Circuito “VAGÃO MUSICAL”.

Fonte luminosa em frente a Casa da Cultura



Cartaz do primeiro Corinto Canta...
Nome mais apropriado não poderia haver. Afinal, Corinto é uma cidade fundamentalmente ferroviária e o Vagão Musical, qual o trem da história cantado por Rubinho do Vale, surgiu a todo vapor para cumprir com o “seu papel de um menestrel sonhador”, parando em cada estação, chamando o povo inteiro, unindo os trilhos da amizade, da solidariedade e da esperança de dias melhores.

O Vagão abre suas portas para receber aqueles que amam tocar, cantar, divertir. A primeira atitude desse projeto foi criar o espetáculo “Corinto canta…” algum artista, ou seja, sempre se homenageará um artista ou um movimento musical brasileiro ou mundial.

O primeiro desses eventos Corinto cantou Roberto Carlos. Nas edições seguintes, Corinto cantou a Jovem Guarda, o Sertanejo, os Beatles e o último, apenas as mulheres corintianas cantaram a MPB.

Na sua sexta edição, que se realizará no próximo dia 13 de agosto, dentro da segunda Semana de Cultura da Academia Brasileira de Letras, o Vagão Musical põe os artistas de Corinto para cantar a música dos Anos 80. Confira programaçao clicando aqui.

4 comentários:

  1. Elvino Pit Louredo ,meu querido saudoso irmão, participou de um desses festivais e ganhou o primeiro lugar

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  2. saudades corinto,clube ferro matinee bailes corinthians boys

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  3. Nossa Cidade, tem riquezas adormecidas.Precisamos reavivar tudo isso. Eu Amo Corinto.

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  4. Nossa Cidade, tem riquezas adormecidas.Precisamos reavivar tudo isso. Eu Amo Corinto.

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