Terceiro disco da cantora Patrícia Ahmaral, Superpoder reúne influências do pop, MPB e canção contemporânea, com tempero de elementos marcantes da música nordestina
Em seu novo álbum, Patrícia Ahmaral apresenta composições próprias e parceria inédita com Vander Lee Foto: Biana Tatamyia/Divulgação |
Por João Paulo
A voz é doce, mas sabe ser rascante quando a música pede. O domínio técnico conquistado em estudo de canto lírico não passa por cima da espontaneidade. A escolha do repertório, que traz canções contemporâneas, convive com o sopro que vem do Nordeste e cria o ambiente sonoro do disco. Patrícia Ahmaral, em seu terceiro disco, Superpoder, está mais madura e em paz com suas escolhas, mesmo que sejam opções de risco.
Sem pressa – ela estreou em disco em 1999, com Ah!, produzido por Zeca Baleiro, ao qual se seguiu Vitrola alquimista, de 2004 –, a cantora vem desenhando uma trilha que já a levou do pop à ópera, sempre com coragem para incorporar novos elementos ao seu trabalho. Para quem já interpretou ópera de Mozart, o canto popular ganha outra inflexão: a música precisa ser promessa de felicidade. Patrícia, mais madura, voltou ao começo para ir mais à frente.
Produzido pelo baixista Fernando Nunes, o novo trabalho, mais popular e acústico, aprofunda a dívida com a música nordestina. A começar pela faixa que dá nome ao disco, de autoria de Lula Queiroga. Compositor sempre inquieto e renovador, Lula dá à cantora um tema forte, que ganha arranjo que mescla efeitos eletrônicos com trompete.
A canção de abertura, Sexto andar, de Carlos Tê e Helder Gonçalves, vem da banda portuguesa Clã, que Patrícia define como “o nosso Pato Fu”. É a marca mais moderna do disco, que vai dialogar com outros momentos que puxam a memória afetiva da intérprete. E é desse campo de afeto que vem a singela Desejo de flor, de Vander Lee, que ganha versão delicada, que acentua os versos e jeito de seresta da melodia. Patrícia leva adiante sua identidade com o compositor popular na parceria Revoada, que fecha o disco.
Outra participação especial é da guitarrista Lucinha Turnbull, conhecida por sua ligação com Rita Lee, que tem a canção Trilha de luz registrada no CD, com levada pop. Na sequência, no mesmo clima, Eu mandei meu amor pro espaço, de Totonho. Patrícia mostra sua veia autoral nas faixas Do querer (xote para dançar junto) e Sorry Baby, que tem participação especial de Chico César.
Banda Nordeste Superpoder tem forte acento nordestino. A presença marcante de Zeca Baleiro na carreira de Patrícia vai além da produção do primeiro disco da cantora e aparece como um certo jeito de cantar e apostar na música como forma de ver o mundo. O compositor maranhense está presente na faixa Do romance, confirmando sua assinatura em todos os discos da intérprete.
Do Nordeste vêm ainda temas dos setentistas Alceu Valença (Espelho cristalino, com arranjo para rabeca e guitarras, bem no espírito do compositor, que já fundia rock e maracatu muito antes de Chico Science); Belchior (Alucinação); e uma releitura de Mamãe coragem, de Caetano Veloso e Torquato Neto, que faz parte do repertório de Patrícia Ahmaral desde o fim dos anos 1990.
O terceiro álbum da cantora mineira é um ponto de inflexão na carreira. Traz os acertos de rota que já se tornaram estilo e abre ramais promissores com a dicção da canção regional, em sua modernidade, e arrojo atemporal, ao mesmo tempo em que reafirma seu desejo de reunir mais gente interessante. A cantora, que parece sempre tímida, sabe que poder mesmo é fazer o que gosta e no tempo certo. Um disco que dá supercerto.
Sem pressa – ela estreou em disco em 1999, com Ah!, produzido por Zeca Baleiro, ao qual se seguiu Vitrola alquimista, de 2004 –, a cantora vem desenhando uma trilha que já a levou do pop à ópera, sempre com coragem para incorporar novos elementos ao seu trabalho. Para quem já interpretou ópera de Mozart, o canto popular ganha outra inflexão: a música precisa ser promessa de felicidade. Patrícia, mais madura, voltou ao começo para ir mais à frente.
Produzido pelo baixista Fernando Nunes, o novo trabalho, mais popular e acústico, aprofunda a dívida com a música nordestina. A começar pela faixa que dá nome ao disco, de autoria de Lula Queiroga. Compositor sempre inquieto e renovador, Lula dá à cantora um tema forte, que ganha arranjo que mescla efeitos eletrônicos com trompete.
A canção de abertura, Sexto andar, de Carlos Tê e Helder Gonçalves, vem da banda portuguesa Clã, que Patrícia define como “o nosso Pato Fu”. É a marca mais moderna do disco, que vai dialogar com outros momentos que puxam a memória afetiva da intérprete. E é desse campo de afeto que vem a singela Desejo de flor, de Vander Lee, que ganha versão delicada, que acentua os versos e jeito de seresta da melodia. Patrícia leva adiante sua identidade com o compositor popular na parceria Revoada, que fecha o disco.
Outra participação especial é da guitarrista Lucinha Turnbull, conhecida por sua ligação com Rita Lee, que tem a canção Trilha de luz registrada no CD, com levada pop. Na sequência, no mesmo clima, Eu mandei meu amor pro espaço, de Totonho. Patrícia mostra sua veia autoral nas faixas Do querer (xote para dançar junto) e Sorry Baby, que tem participação especial de Chico César.
Banda Nordeste Superpoder tem forte acento nordestino. A presença marcante de Zeca Baleiro na carreira de Patrícia vai além da produção do primeiro disco da cantora e aparece como um certo jeito de cantar e apostar na música como forma de ver o mundo. O compositor maranhense está presente na faixa Do romance, confirmando sua assinatura em todos os discos da intérprete.
Do Nordeste vêm ainda temas dos setentistas Alceu Valença (Espelho cristalino, com arranjo para rabeca e guitarras, bem no espírito do compositor, que já fundia rock e maracatu muito antes de Chico Science); Belchior (Alucinação); e uma releitura de Mamãe coragem, de Caetano Veloso e Torquato Neto, que faz parte do repertório de Patrícia Ahmaral desde o fim dos anos 1990.
O terceiro álbum da cantora mineira é um ponto de inflexão na carreira. Traz os acertos de rota que já se tornaram estilo e abre ramais promissores com a dicção da canção regional, em sua modernidade, e arrojo atemporal, ao mesmo tempo em que reafirma seu desejo de reunir mais gente interessante. A cantora, que parece sempre tímida, sabe que poder mesmo é fazer o que gosta e no tempo certo. Um disco que dá supercerto.
Fonte: Jornal Estado de Minas - Caderno EM Cultura, 14/09/2011.