Por Tadeu Oliveira
Nos dois últimos programas Canta Minas, 18 e 25 de agosto, eu entrevistei duas pessoas que são ativistas culturais em Capelinha: Reginaldo Rodrigues, presidente do Grupo de Teatro Anim’Art e Preta Vieira, uma das fundadoras do GTC - Grupo de Teatro de Capelinha e atual diretora-presidente da Casa da Cultura de Capelinha. O bate papo com Reginaldo e Preta visou dar um panorama da construção histórica do teatro capelinhense.
Sempre
acompanhei com interesse os movimentos culturais do município. Antes de vir
morar aqui, eu já tinha notícias dos movimentos culturais existentes ou que já
existiram, tais como: Semana da Cultura, Grupo de teatro, Casa da Cultura. A
partir de 1997, quando vim morar em Capelinha, passei a integrar o movimento
cultural local, oportunidade que me permitiu conhecer um pouco mais a história
da construção e organização das atividades culturais do lugar.
Segundo
registros existentes nos arquivos da Casa da Cultura e diversos relatos que
obtive através de conversas informais com várias pessoas fundadoras do
movimento cultural capelinhense, tudo começou no ano de 1981, quando em
Capelinha se encontravam técnicos e assistentes do Programa MG II, pessoas que,
por zelo natural, gosto pelo fazer cultural e artístico, apresentaram-se
criativas, dentre as quais se destacou a socióloga Jane Simões, para cuja
residência convergiam Sônia Sampaio, Preta Vieira, Marlene Matos, Detinha
Peixoto. Cássio (Prof. Quincas), entre outros, em busca de lazer e troca de idéias.
E foi através deste convívio que Jane Simões apresentou várias propostas aos então
jovens entusiastas capelinhenses.
Em
janeiro de 1982, se encontrava em capelinha Belisário Barros, diretor de teatro
de Belo Horizonte, a convite de Jane Simões que organizou a primeira oficina de
teatro, que teve como resultado a apresentação da “Morte e Vida Severina”. A
ideia, como uma semente que lançada em terra fértil produz bons frutos, foi
acolhida por consenso e o bastante para que em 08 de julho de 1983 se criasse
oficialmente o G.T.C. – Grupo de Teatro de Capelinha. Enfrentando preconceitos
e adversidades estes jovens mantiveram o firme propósito de se amadurecer, de
se impor e conquistar o seu espaço.
Após
realização de várias peças teatrais chegou o momento de, arrojadamente em 1984,
criarem a I Semana de Cultura que mobilizou para a cidade pessoas de muitos
lugares e grandes expressões da arte e cultura do Vale do Jequitinhonha, com
objetivo de despertar na gente de Capelinha e região os seus valores.
Em
1985, membros do G.T.C. participaram do II EPC – Encontro Popular de Cultura o
que levou a geminar o embrião da Casa da Cultura. Esta surgiu em 1987 com
tamanha força e juntamente com o grupo de teatro passou a fazer frente de todos
os eventos culturais de Capelinha.
Apesar
do Grupo de Teatro e da Casa da Cultura de Capelinha terem dado uma grande
contribuição dos valores culturais de Capelinha também alertaram para questões importantes
como a situação do menor abandonado, do idoso, a questão ambiental, além de
terem divulgado de forma brilhante o nome da Capelinha para vários pontos do país.
Tendo caráter apartidário e respeitando as diferenças filosóficas e religiosas
da comunidade, ambas as entidades nunca contaram com o apoio efetivo dos órgãos
competentes. Sobreviver nestes anos foi uma atitude quase milagrosa.
Vale
a pena ressaltar que foi através destas entidades que o povo de Capelinha
conheceu show de praça, uma rua de lazer, conheceu o teatro e teve, de novo,
acesso a uma biblioteca sempre gratuitamente. A falta de apoio teve como
consequência a total desarticulação das entidades que tiveram que guardar suas
coisas e sair a procura de formas alternativas para manterem o funcionamento.
O
período compreendido entre 1990 e 1997 foi marcado pelo marasmo,
desarticulação, fato comparado a um doente em estado de coma. Mesmo assim,
neste período, foram realizadas duas Semanas da Cultura. A partir de 1998 a vontade de
reestruturar as entidades voltou à tona e nova diretoria foi eleita. Nessa
época, a Casa da Cultura foi mantida com o apoio da ACIAC (Associação Comercial,
Industrial e Agropecuária de Capelinha) e do SIND-UTE (Sindicato Único dos Trabalhadores
em Educação, sub-sede de Capelinha).
Há
de ressaltar ainda que, embora Araçuaí tenha hoje o maior destaque do teatro no
Vale do Jequitinhonha, o GTC foi uma grande referência para o Grupo Vozes,
daquela cidade. E, nos tempos atuais, os fazedores de teatro de Araçuaí
tornaram-se referência para o Grupo Anim’Art de Capelinha.
NO
INÍCIO DO SÉCULO XXI SURGE UM NOVO CICLO
Nos
anos de 1999 e 2000, tive o privilégio de ocupar o cargo de diretor presidente
da Casa da Cultura de Capelinha, oportunidade em que reativamos o Grupo de
Teatro local. Para isso, o ator e antigo membro do GTC, Amauri Costa, fez
algumas oficinas com os novos atores contando também com a minha produção e
co-direção. Essa nova safra contou com a pariticipação dos irmãos Jefferson
Rayneres e Juvenal Cordeiro Filho, de Lettícia Camargos, Mariana Paranhos,
César Sampaio, Wendhel Damasceno, Jocélio Campos e Fábio Martins. Dessa oficina
montamos a peça “Pluft, o fantasminha”, de Maria Clara Machado. A peça foi
apresenta diversas vezes em Capelinha e também na cidade de Itamarandiba.
Logo
após a apresentação da peça “Pluft, o fantasminha”, o GTC apresentou a peça “Brasil
Raízes”, com produção e direção de Tadeu Ribeiro. A peça “Brasil Raízes” foi
uma homenagem aos 500 anos do Brasil. Devido a algumas dificuldades e diversos acontecimentos,
novamente o GTC se hiberna o teatro só voltaria a ter destaque com a chegada de
Paulinho a Capelinha. Com ele, surgem novos atores como Kandacy, Naiara Santos
e Lucas que fazem brilhantes atuações na peça “O Homem”. Com a partida de
Paulinho de Capelinha, novamente o teatro entra em decadência até que, no ano
2005, com o incentivo de Preta Vieira alguns jovens resolvem criar um grupo de
teatro a partir uma oficina. É daí que surge o Grupo de Teatro Anim’Art. Numa próxima publicação, relataremos um pouco da história desse grupo.