O CASO DOS TAMANQUINHOS
Tadeu Oliveira
Essa quem me contou foi o meu amigo Barrão. Diz ele que, tempos atrás, havia dois prósperos comerciantes em Capelinha que vendiam de tudo que se possa imaginar. Para quem não conhece a cidade, ela é dividida ao meio pelo histórico Córrego do Areão, veio dágua escolhido por Manuel Luiz Pego para se instalar, após perseguição dos índios Aranãs, fato que deu origem à cidade.
Um dos comerciantes ficava instalado do lado de lá do córrego, na famosa rua das Flores, e o outro do lado de cá, ali pelas bandas da rua Getúlio Vargas, salvo-me do engano.
Deu-se que o comerciante do lado de cá havia comprado um estoque de tamancos que, segundo o meu amigo Barrão, dava para abastecer os pés das mulheres de uma cidade do tamanho de São Paulo. (Barrãozinho é assim, meio exagerado).
Com o passar do tempo, depois de vender um par tamancos de vez em quando e outro de quando em vez, o comerciante do lado de cá viu que a mercadoria encalhara em definitivo. Foi quando teve a feliz ideia de contratar um bando de moleque para ir de hora em hora na loja do concorrente do lado de lá do córrego para perguntar se lá tinha tamanquinhos. É claro que o sujeito endoidou o cabeção.
Numa visita esporádica de fim de tarde ao concorrente do lado de cá, o concorrente do lado de lá comentou que ultimamente estava tendo um procura danada de tamanquinhos na loja dele. Mal o sujeito fechou a boca o comerciante do lado de cá ofereceu adjutório: lascou conversa, dizendo que realmente o produto estava saindo que era uma beleza, coisa e tal, mas que se ele quisesse arrumava uma parte do estoque para o comerciante do lado de lá, até ele comprar do viajante que não tardaria a passar.
Para encurtar a conversa, Barrãozinho me falou que até hoje o comerciante do lado de lá não pode ouvir a palavra tamanco que o sujeito dá nó na tripa, pois não sabe o que fazer com o seu estoque de tamanquinhos.
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