Documentário mostra a trajetória do
letrista Murilo Antunes, autor de clássicos românticos como Nascente e Besame.
Parceiros e músicos da nova cena de Minas participam do longa
Ailton
Magioli
Mônica Salmaso e Tavinho Moura cantam O trem tá feio (Villa Cultura / Noir Filmes / Divulgação) |
Ao
som de Era menino, na voz de Beto Guedes, e a caminho de Pedra Azul, no Vale do
Jequitinhonha, onde passou a infância, Murilo Antunes, de 60 anos, lembra que
não faz ou escreve poesia quando quer. “Acho que é quando ela quer”, poetiza o
letrista do Clube da Esquina, que lança hoje à noite, no Usiminas Belas Artes,
em sessão para convidados, o longa-metragem Como se a vida fosse música.
Relato
da rica trajetória do mineiro de Montes Claros que encontrou em Belo Horizonte
o ambiente ideal para desenvolver sua carreira artística, o documentário, com
direção de cena de Fernando Batista (Noir Filmes), chega ao mercado em formato
de DVD, por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura. Há possibilidade de a
trilha sonora sair em CD caso Murilo consiga captar mais recursos.
“Agora
facilita, porque os custos ficam mais baixos”, comemora o letrista. Os
registros musicais do filme foram feitos em estúdio, pois nas locações usou-se
playback. Integrante do seleto time de letristas do Clube da Esquina, ao lado
de Márcio Borges, Ronaldo Bastos e Fernando Brant, Murilo é autor de cerca de 250
letras de canções gravadas, entre as quais se destacam pérolas como Nascente e
Besame, da parceria com Flávio Venturini.
É
dele também a letra de Viva Zapátria, a parceria com Sirlan que rendeu aos
autores uma passagem pela Censura Federal na década de 1970. A canção disputou a
atenção do júri do 7º Festival Internacional da Canção (FIC), em 1972, no qual
sagrou-se vencedora Fio maravilha, de Jorge Ben Jor. A canção que batiza o documentário
sobre a trajetória do letrista é parceria com Nelson Angelo. Autor de dois
livros de poemas – O gavião e a serpente, de 1979, e Nossamúsica, de 1990 –,
Murilo Antunes também integrou duas coletâneas de prosa, Éramos felizes e
sabíamos e Amor na zona.
A
atividade de letrista é mais de bastidores, conta Murilo. Isso se deve ao
próprio ofício, justifica, salientando que autores de letras deixam o posto de
popstar para os cantores. “O nosso trabalho de escrita é mesmo mais
introspectivo”, explica. Entretanto, nesse DVD ele está o tempo inteiro em
cena. À exceção de Vinicius de Moraes (Vinicius – O filme, de Miguel Faria Jr.)
e Humberto Teixeira (O homem que engarrafava nuvens, de Lírio Ferreira), nenhum
outro letrista virou filme no Brasil. Há também o documentário Palavra
encantada, de Helena Solberg, sobre relação da poesia e a música por meio do trabalho
de compositores como Chico Buarque e Paulo César Pinheiro, entre outros.
Satisfeito
com o resultado de Como se a vida fosse música, Murilo já tem reunião agendada
no Canal Brasil para negociar a exibição do filme, além de planejar inscrevê-lo
em festivais de cinema. “Estou feliz com o resultado pelo trabalho imenso que
deu e pela generosidade dos parceiros. Sem a disponibilidade deles seria
impossível fazer o filme, que teria preço exorbitante”, ressalta o letrista.
Nesse documentário ele conseguiu reunir gente como João Bosco e Milton
Nascimento em torno de sua música.
Atualmente,
além da estreia da parceria com o pianista Andre Mehmari, Murilo Antunes está
escrevendo letras para melodias inéditas do cantor e compositor Sérgio Santos.
No palco
Para
driblar as dificuldades para exibir o filme, Murilo Antunes anuncia a criação
de pocket show com a participação de seu filho, João Antunes (guitarra), Flávio
Henrique (teclado) e Vitor Santana (voz e violão). A estreia foi marcada para
13 de dezembro, no Feitiço Mineiro, em Brasília. Em seguida, ele pretende se
apresentar em bares e teatros. “Enquanto meus companheiros de cena interpretam
as músicas, vou declamar poemas meus, de Manoel de Barros e de Vinicius de
Moraes”, informa.
MURILO ANTUNES: COMO SE A VIDA FOSSE
MÚSICA
Exibição
na quinta-feira aberta ao público, às 21h30, no Belas Artes, Rua Gonçalves
Dias, 1.581, Lourdes. O DVD será vendido a R$ 40.
As canções
Besame (com Flávio Venturini), com João Bosco
Ciranda, Pierrot e Solidão (com Flávio Venturini), com Flávio Venturini
Era menino (com Tavinho Moura e Beto Guedes), com Beto Guedes e
Rodrigo Borges
Era uma vez por toda vida (com Flávio Henrique), com Paulinho Pedra Azul,
Flávio Henrique e Murilo Antunes
Findo amor (com Tavinho Moura), com Susana Travassos
Nascente (com Flávio Venturini), com Paula Santoro
Nem nada (com Beto Lopes), com Vander Lee
O trem tá feio (com Tavinho Moura), com Mônica Salmaso
Quadros modernos (com Toninho Horta), com Cobra Coral
Rosário de Maria (com Tavinho Moura), com Tavinho Moura
Saudade eu canto assim (Tavinho Moura), com Tavinho Moura
Tesouro da juventude (com Tavinho Moura), com Flávio Venturini e Tavinho
Moura
Vero (com Natan Marques), com Mariana Nunes e Vítor Santana
Viva Zapátria (com Sirlan), com Sirlan e Pablo Castro
Viver, viver (com Lô e Márcio Borges), com Milton Nascimento e Lô
Borges
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MUITO PRAZER
Ângela
Faria
Em
Como
se a vida fosse música, Murilo Antunes e Ronaldo Bastos afirmam que a
letra de uma canção é apenas coadjuvante da melodia. Ao bom verso, diz Ronaldo,
cabe o papel de honrar dignamente esse papel. Será? Há controvérsias...
O
documentário de Murilo Antunes joga luz sobre o letrista e seu ofício. Até
hoje, Nascente é trilha sonora de namorados, Besame tem embalado muita dor de cotovelo por aí. Viva
Zapátria faz a gente chorar pela triste América mãe. Se foi amordaçada
pelos generais nos anos de chumbo, é marcada pela cruel desigualdade social
neste século 21. Nada fica datado no cancioneiro muriliano.
Nossas
palmas sempre aclamaram os donos da voz. Esse novo filme, mineiro da gema, tem
o mérito de apresentar o rosto (e a verve) de quem põe as palavras em nossa
boca. Muito prazer, Murilo Antunes. Que lindo poema você dedica a BH. Que
showzaço você oferece para mostrar suas canções, reunindo gente das antigas
como João Bosco, Toninho Horta, Tavinho Moura e Sirlan à nova geração.
Que
venham documentários sobre Fernando Brant, Ronaldo Bastos, Márcio Borges, Aldir
Blanc, Paulo César Pinheiro e tantos outros mestres da palavra.
Fonte: Caderno EM Cultura – Jornal Estado
de Minas, Publicação: 27/11/2012