Há exatamente dez anos, o poeta e cronista Fernando Brant escrevia esta crônica citando a participação do Coral Vozes das Veredas no 2º Festival de Corais de Belo Horizonte/2004. Esta crônica, que reproduzo abaixo, com certeza contribuiu imensamente para dar visibilidade ao trabalho junto à Adecave e abriu novas possibilidades para o coral de Veredinha. Confira:
Por Fernando Brant
"As vozes de Três Corações, Itabirito, Uberaba, Veredinha, Belo Horizonte e do grupo Equale, do Rio de Janeiro, soaram em várias praças de nossa cidade"
A cidade foi invadida por vozes de
meninos e meninas, de moças e rapazes, homens e mulheres. É só questão de idade
e sexo, pois eu poderia dizer, e estaria certo, que Belo Horizonte foi possuída
pelo canto de brasileiros vindos do interior, de fora de Minas e da capital.
Pelo segundo ano seguido, os corais tomaram conta de nossas praças e espalharam
harmonia, melodia e poesia por nosso novembro. Não sei se os meios de comunicação se interessaram, como deveriam,
pelo acontecimento, mas quem soube, e apareceu para ver e ouvir, teve a
oportunidade de se emocionar com a diversidade e beleza do canto coletivo.
O canto que bateu aqui veio de lugares distantes; de Veredinha, por exemplo. Mais de 30 crianças, a maioria meninas, colocaram em estado de graça o público que assistiu ao som e aos gestos de sua apresentação. Não sei se vocês sabem de Veredinha. É uma pequena cidade fincada no meio do Vale do Jequitinhonha, que tem Diamantina como porta de entrada e desfila povoações com nomes singelos como Capelinha, Minas Novas, Turmalina e Carbonita. Pois foi de lá, do fundo mais fundo do vale, pobre materialmente e rico em cultura, que o maestro Tadeu Oliveira trouxe o sublime cantar de suas meninas e meninos. Ouvir Itamarandiba, minha e do Milton Nascimento, cantada e interpretada por pequenos anjos negros, foi de arrepiar.
São coisas de responsabilidade do maestro Lindomar Gomes, um singelo encantador de notas musicais e de pessoas, que leva a vida sonhando e realizando sonhos. As idéias, sempre boas, surgem em sua cabeça, ele se entusiasma e logo sai à luta para torná-las fatos concretos. Não é de hoje que ele espalha música popular brasileira pelas igrejas de Minas. Diante do altar da religiosidade, as pessoas simples do povo ouvem com devoção as canções dos criadores populares de sua terra. O lugar de orar vira o lugar de cantar e essa é uma reza que sabemos fazer muito bem.
Tem asas o nosso maestro. O engraçado é que sua calma e sua voz mansa não parecem combinar com o empreendedor que ele é. É que nos acostumamos a encontrar, no mundo amalucado em que vivemos, a competência empresarial ser associada a pessoas que berram, atropelam os semelhantes e desrespeitam todas as normas mínimas de educação. Lindomar é da delicadeza e da eficiência. Rege sua turma com a fineza do maestro que é. Sua equipe de produção funciona como um naipe de vozes afinadas. Por ser tranqüilo e por liderar com sabedoria, os moços e moças que trabalham ao seu redor estão sempre alegres, dispostos e, por isso, belos.
As vozes de
Três Corações, Itabirito, Uberaba, Veredinha, Belo Horizonte e do grupo Equale,
do Rio de Janeiro, soaram em várias praças de nossa cidade, no último fim de
semana. A beleza vale a pena. Ano que vem tem mais.
(*) Fonte: Esta crônica foi originalmente publicada no caderno EM Cultura do Jornal Estado de Minas do dia 01/12/2004.
Também o integra o livro "Casa Aberta", que reúne diversas crônicas de Fernando Brant, publicado pela Editora Edubolsinho, Sabará-MG, 2012.
Leia também:
O CANTO QUE VEIO DO FUNDO MAIS FUNDO DO VALE
ARTIGO: MÚSICA E MINEIRIDADE (1ª PARTE)
ARTIGO: MÚSICA E MINEIRIDADE (2ª PARTE)
Leia também:
O CANTO QUE VEIO DO FUNDO MAIS FUNDO DO VALE
ARTIGO: MÚSICA E MINEIRIDADE (1ª PARTE)
ARTIGO: MÚSICA E MINEIRIDADE (2ª PARTE)