O capelinhense Douglas Lima, Mestre em História Social pela UFMG, apresentará pesquisa sobre o discurso do progresso e a seleção do passado no município de Capelinha
Douglas Lima lecionando História |
O Programa Polo de Integração da
UFMG no Vale do Jequitinhonha realiza, nos dias 13 e 14 de junho de 2016, em
Belo Horizonte, o Seminário Visões do Vale X. A grande novidade desse ano será
a participação do jovem capelinhense Douglas Lima, Mestre em História Social
pela UFMG (2014) e licenciado em História pela UFMG (2011) que foi classificado
para apresentar sua pesquisa sobre "O Discurso do progresso e a seleção do
passado" na história de Capelinha.
Douglas Lima parte das visões acerca
do progresso e do passado que permearam diversos processos de mudanças sociais
e econômicas ocorridas desde o século XVIII para compreender as influências que
permanecem até os dias atuais. Segundo ele,
"nos últimos duzentos anos, progresso foi entendido como passaporte para
um futuro glorioso, necessariamente melhor do que o passado e/ou o presente.
Por seu turno, o passado adquiriu ares de obscuridade, de tempo desconhecido
ou idealizado e em alguns casos tornou-se sinônimo de atraso. As ciências
humanas discutem tais perspectivas de forma crítica, relativizando o lado
positivo do progresso e buscando a desmistificar do passado. No entanto, as
visões acadêmicas nem sempre estão em consonância com as percepções
instrumentalizadas hegemonicamente e os conceitos de progresso e de passado normalmente manejados pela sociedade não são necessariamente os eleitos pelos
pesquisadores em humanidades. "
No seu trabalho, o binômio
“progresso-passado” é investigado segundo os sentidos que adquiriu em Capelinha,
Alto Vale do Jequitinhonha. Como fontes de pesquisa, utiliza-se discursos
proferidos por autoridades, livros sobre a história local, jornais,
fotografias, relatórios e legislação municipal. Desde o final dos anos 1970,
Capelinha transformou-se econômica e socialmente, o que gerou muitos impactos
para a população local. Grande parte das mudanças ocorreu em virtude da
intensificação das monoculturas de café e de eucalipto no município. A
localização geográfica estratégica e o clima propício ajudaram a cafeicultura e
a eucaliptocultura a prosperarem em Capelinha.
Douglas afirma que, diferentemente de outros
municípios vizinhos, a partir de então, a economia capelinhense alavancou,
gerando empregos nas áreas extrativistas. O café e o eucalipto passaram a
sintetizar o “progresso” da conjuntura local. Simultaneamente a esse processo,
a sede municipal de Capelinha sofreu intervenções arquitetônicas, que
modificaram suas antigas feições. Casarões centenários foram derrubados, dando
lugar a edifícios contemporâneos que também simbolizam a “prosperidade” e o
“progresso” do município. Em contraposição ao discurso de progresso,
disseminou-se uma ideia de que a história de Capelinha tinha um “antes” e um
“depois” do café e do eucalipto. O contexto anterior, de desemprego e miséria, foi
modificado e ainda que a falta de emprego e a fome não estivessem totalmente
erradicadas, tais problemas foram mitigados pela monocultura. Esta percepção
social desconsidera aspectos que não se encaixam no discurso de progresso.
Ele afirma que apesar do “progresso” de Capelinha ser intimamente associado ao café e ao eucalipto cultivados a partir da década de 1970, ele foi uma busca constante das autoridades e das elites locais desde o início do século XX. A retórica do avanço e da ruptura com o passado pode ser percebida nos discursos proferidos na cidade por Juscelino Barbosa, em 1925. Por conta da proeminência da concepção de progresso, a história ocupa um lugar marginal nas narrativas capelinhenses, muitas vezes sendo sinônimo de um “passado” mitificado, idealizado e/ou selecionado. Dessa forma, temas centrais para a história brasileira, como a escravidão e o coronelismo, também observáveis ao longo da história de Capelinha, são referidos a título de curiosidade, como se não se tratassem de aspectos fundantes do próprio processo histórico local. A história como “passado” positivo muitas vezes é associada a alguns indivíduos e algumas famílias, que se destacam nos âmbitos da administração municipal e da economia. Eles são entendidos como os agentes do processo histórico local, tendo o papel de guiar a locomotiva do “progresso” capelinhense.
É a partir do
confronto entre os discursos de “progresso” e de “passado”, inscritos nas
fontes aqui utilizadas, que a presente reflexão se insere. Busca-se interpretar
tais visões segundo suas dimensões históricas, deixando de lado a perspectiva
essencializante, afirma Douglas Lima.
VISÕES DO VALE X
O Visões do Vale tem o objetivo de
compartilhar e discutir as diferentes percepções sobre o Vale do Jequitinhonha,
através de discussões temáticas nas quais tenham vez e voz as diferentes visões
sobre as características, problemas e potencialidades da região.
Como forma de aproximar
pesquisadores, agentes governamentais e a população do Vale, o evento discutirá
nesta edição o tema desafios da urbanização. Além de conferências e mesas-redondas, serão aceitas comunicações orais de
trabalhos de pesquisa e extensão sobre este tema, de diferentes áreas do
conhecimento e de qualquer instituição de pesquisa. As comunicações serão
organizadas em painéis
temáticos, que podem versar sobre os seguintes subtemas: aspectos
históricos, demográficos e populacionais, migrações, organização popular e
movimentos sociais, educação, cultura e identidade, dentre outros, cabíveis na
temática geral do Seminário.
Além de Douglas, outros pesquisadores apresentarão seus trabalhos a partir das 16 horas do dia 14 de junho, terça-feira. Cada apresentação individual, em dupla ou em grupo terá de 15 a 20 minutos de exposição. Na sequência das apresentações será realizado os debates.
Além de Douglas, outros pesquisadores apresentarão seus trabalhos a partir das 16 horas do dia 14 de junho, terça-feira. Cada apresentação individual, em dupla ou em grupo terá de 15 a 20 minutos de exposição. Na sequência das apresentações será realizado os debates.
QUEM É DOUGLAS LIMA
Natural de Capelinha, Douglas Lima é filho do senhor Valdemiro Alves de Jesus que era conhecido pelo apelido de Coelho e que tinha uma pequena indústria de calçados denominada Sandálias Capelinha e de dona Lucila Aparecida Lima de Jesus, professora do ensino fundamental na Escola Estadual Domingos Pimenta de Figueiredo. Primeiro filho do casal, Douglas tem como irmãos Eduardo, Vanessa e Gustavo, baluartes e companheiros da vida inteira e com quem sempre dividiu cantorias desafinadas em Capelinha, que tornaram-se mais raras, mas segundo ele, quando acontecem são ainda grandes momentos de fraternidade e brincadeiras. Neto de "seu" Zé do Morro, Douglas herdou do avô o interesse pela cultura popular e pelas histórias de migração das pessoas do Vale do Jequitinhonha para a região sul do país.
Cursou a escola pública em Capelinha e no ano de 2004, seguiu para São João Evangelista onde cursou o ensino médio e Curso técnico/profissionalizante, se formando Técnico em Agropecuária na Escola Agrotécnica Federal de São João Evangelista, EAFSJE-MG. Em seguida vai para a capital mineira onde inicia os estudos em Psicologia na Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais - PUC Minas, que acaba por interromper no no de 2007.
Em 2008, se matricula no curso de História da Universidade Federal de Minas Gerais, Campus Pampulha em Belo Horizonte, onde se licencia em História em 2011. Em 2012, inicia o mestrado em História (Conceito CAPES 6) também pela UFMG, onde tornou-se Mestre em História Social da Cultura, em 2014, ao defender pesquisa intitulada "Polifonia das alforrias: significados e dinâmicas das libertações de escravos nas Minas Gerais setecentistas".
Cursou a escola pública em Capelinha e no ano de 2004, seguiu para São João Evangelista onde cursou o ensino médio e Curso técnico/profissionalizante, se formando Técnico em Agropecuária na Escola Agrotécnica Federal de São João Evangelista, EAFSJE-MG. Em seguida vai para a capital mineira onde inicia os estudos em Psicologia na Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais - PUC Minas, que acaba por interromper no no de 2007.
Em 2008, se matricula no curso de História da Universidade Federal de Minas Gerais, Campus Pampulha em Belo Horizonte, onde se licencia em História em 2011. Em 2012, inicia o mestrado em História (Conceito CAPES 6) também pela UFMG, onde tornou-se Mestre em História Social da Cultura, em 2014, ao defender pesquisa intitulada "Polifonia das alforrias: significados e dinâmicas das libertações de escravos nas Minas Gerais setecentistas".
Entre 2008 e 2011 foi bolsista de Iniciação Científica PIBIC/CNPq. Foi membro da coordenação da Oficina de Paleografia - UFMG (
Tadeu Martins e Douglas Lima conversando sobre o Vale. |
Embora resida em Belo Horizonte, Douglas Lima sempre se mostrou interessado e preocupado em discutir e buscar soluções para os problemas sociais da sua cidade. Tanto que, juntamente com outros jovens capelinhenses, criaram o MMC - Movimento Muda Capelinha que muito contribuiu para a discussão da conscientização política local, da cidadania e participação popular num contexto em que a cidade vivia da possibilidade de se concretizar um dos seus maiores sonhos que é a presença de uma universidade federal. Mas, esses jovens não ficaram restritos apenas a Capelinha e começaram a situar os problemas e conquistas do município dentro do cenário do Vale do Jequitinhonha. Assim, eu mesmo já tive a oportunidade de participar de eventos culturais em diversas cidades do Vale junto com ele e sempre buscamos a compreensão dos fatos que vivenciamos.
A despeito dos muitos planos que temos a realizar juntos, desejo de todo coração que Douglas Lima brilhe cada vez mais na pesquisa da nossa história.
Outras
informações sobre o evento estão disponíveis em nosso portal:
Solicita-se confirmar presença pelo e-mail: polojequitinhonhaufmg@gmai l.com