terça-feira, 16 de agosto de 2011

AINDA SE OUVE ECOS DO GALPÃO CULTURAL

"A maior força do Galpão é a sua democracia musical ao acolher uma diversidade de ritmos, estilos e as diferentes formações de grupos cantando MPB, reggae, samba, música regional do Vale do Jequitinonha, música caipira e sertaneja, música alternativa, pop-rock, música instrumental, tudo se integrando em harmonia"

Por Tadeu Oliveira


O mês de agosto segue a passos largos, mas ainda se escuta pela cidade o reboar dos ecos do Galpão Cultural por onde passo, após um mês de sua realização. Felizmente, esse ressoar tem sido positivo e recheado de elogios, embora de vez em quando um e outro pontue sobre algo que ficou a desejar. A maioria das pessoas identifica a minha imagem com o Galpão, muitas vezes atribuindo a mim o sucesso do evento e quando criticam, geralmente direciona o foco da mesma para a administração pública ou alguém ligado a ela. E eu, de forma tranquila e honesta, informo às pessoas que sou apenas o apresentador e organizador do palco do Galpão, sou apenas uma engrenagem entre tantas outras que contribuem para o sucesso ou a derrocada do evento. Felizmente, repito, há mais elogios do que reclamações.

Não pretendo aqui, arvorar-me como porta voz de ninguém e muito menos ser o advogado do diabo. No entanto, lembrando de algo escrito pelo cantor e compositor mineiro Sérgio Santos, criticar não requer apenas informar ou contextualizar. Criticar exige análise, o que implica em um mínimo de formação para se compreender o objeto passivo da crítica. Segundo ele, “o problema está mais naquilo que envolve o seu exercício do que nela em si. Ela em si poderia estar, se bem realizada, muito mais perto de contribuir com uma solução do que de ser um problema”.

A crítica pode ser um benção ou pode ser uma desgraça. Para criticar é necessário ter argumentos e conhecer o tema em questão a fundo. Se ela vai ser construtiva ou destrutiva, depende de como a pessoa a receberá ou aceitará. Isto posto, pretendo aqui opinar sobre o que depreendi nos últimos dois anos que voltei ao Galpão e que tem consonância com as opiniões que ouvi de diversas pessoas: artistas, organizadores e frequentadores. Afinal, uma opinião é algo mais simples, depende do que você pensa ou sente em relação aquele assunto sem precisar de uma análise mais profunda.

Dizer do Galpão de 2011 sem se referir à sua nova estrutura, não tem jeito. A construção de novas e confortáveis instalações pela atual administração é algo altamente louvável. Aumentou o espaço para o público e, principalmente, a segurança. Ainda está na nossa memória aquela viga de madeira que ficava no meio do palco. Ela atrapalhava os artistas, mas era garantia de segurança para que o telhado do velho galpão não desabasse sobre nossas cabeças.

Além da retirada da viga, o portal de acesso ao galpão para quem vem do parque de exposições mudou de lugar, ficando mais ao centro do salão. Isso contribuiu para evitar, quando o galpão fica lotado, que o público se aglomere à frente do palco atrapalhando o show. Além disso, o som que vem do parque de exposições já não incomoda tanto dentro do galpão. Inclusive, para os próximos anos, pode-se pensar em oferecer shows alternativos para as pessoas que vão para festa sem dar muita importância aos megashows, mas que não arredam o pé do Galpão Cultural.

Outro ponto positivo foi o atendimento do barzinho. Ouvi diversas pessoas elogiarem a quantidade de garçons e a agilidade do antendimento. E olha que durante quase todas as noites o Galpão ficou lotado. A qualidade do cardápio também é digna de consideração ao privilegiar a culinária regional. Salgado estava mesmo era o preço, reclamação feita por gente e que eu endosso. Afinal, para comer e beber durante nove noites, haja orçamento recheado. Nem no Carnaval.

A qualidade dos shows e dos artistas que se apresentaram foi o ponto alto e alvo dos maiores elogios. A Banda Odilara fez a abertura do Galpão 2011 caindo nas graças do público quase que como uma unanimidade. Talvez o maior trunfo da Banda Odilara, ao agradar pessoas de variadas gerações e variados gostos musicais, tenha sido o seu repertório, composto em sua maioria da releitura de sambas de sucesso, porém com levadas pop.

Seguindo os mesmos critérios dos anos anteriores, os artistas regionais também tiveram vez. De Minas Novas, terra que carrega a tradição de revelar grandes talentos musicais, vieram o violeiro Osmar Lins, a dupla Gleissinho e Raphaela com um repertório carregado de samba e Marco Pérola, que bateu o ponto no segundo ano consecutivo. De Turmalina, fazendo uma participação especial no show de Osmar Lins, veio o já conhecido Volber Maciel e, de Veredinha, o Coral Vozes das Veredas. Walter Dias, conhecido cantor e compositor do Vale do Jequitinhonha, também marcou presença pela segunda vez no Galpão lançando o seu primeiro CD intitulado "Setembro".

Jéssica deu um show de interpretação
Mas é da cidade de Capelinha que vieram a maior parte dos artistas: Fátima Neves e fihos, Rodrigo Pires, Jederson Cordeiro, Júlio Penna, Guilherme Pimenta, a banda Akasus e as meninas Maria Letícia e Jéssica Souza. Esta última, passou da condição de grata revelação  para protagonizadora, sgundo opinião da maioria, da melhor apresentação do Galpão nesse ano ao trazer um belo repertório que agradou imensamente o público presente. Se compararmos com a sua apressentaçao no ano passado percebe-se a sua grande evolução como intérprete. Sua qualidade vocal também merece elogios. Espero que Jéssica continue evoluindo a cada dia.

Quarteto Amuc
Não se pode esquecer as belas apresentações das bandas de música AMUC, da cidade de Capelinha, e da Banda de Música Prof. Geraldo Magela, de Aricanduva que tocaram os mais variados ritmos da música brasileira. O Quarteto AMUC, um quarteto de sopros formado por músicos da banda local, brindou o público com o melhor do jazz americano das décadas de 1930 e 1940 do século passado. Mas o estilo musical que mais rolou no Galpão foi o samba.

A começar pela Banda Odilara, passando por Rodrigo Pires, Walter Dias, Marco Pérola e fechando a última Madrugada Galpão, Gleissinho e Raphaela. Mas nem só de samba viveu o Galpão. A maior força do Galpão é a sua democracia musical ao acolher uma diversidade de ritmos, estilos e as diferentes formações de grupos cantando MPB, reggae, samba-reggae, música regional do Vale do Jequitinonha, música caipira e sertaneja, música alternativa, pop-rock, música instrumental, tudo se integrando em harmonia.

Grupo Anim'Art
Além das apresentações musicais, o Grupo de Teatro Anim’Art e o Grupo Cultural Adahun trouxeram esquetes que encantaram o público. O Anim’Art, apresentou o “Milagre das Formigas”, texto do minasnovense Carlos Motta. O que pecou foi o barulho que o público fez impedindo uma melhor audição do texto interpretado pelos atores. O Adahun apresentou duas danças afro-brasileiras, tendo o professor Cimael Campos à frente, com destaque para a dança do Maculelê.


Grupo Adahun - Dança do Maculelê
 O Instituto CriaSom, de Capelinha, também teve o seu momento no Galpão ao fazer uma bela apresentação com o coral formado por alunos que participaram de uma oficina de técnica vocal com Walter Dias. 

A feira de artesanato contou com a exposição dos artesãos da PROARTE – Associação de Artesãos e Produtores da Agroindústria de Capelinha que acabaram de comemorar mais uma grande realização ao inaugurarem uma “Loja de Artesanato” permanente no centro da cidade. Também expuseram na feira artesãos de Angelândia, Aricanduva, Minas Novas, Turmalina, Veredinha e Itamarandiba. Essa participação, além de melhorar a qualidade da mesma, permitiu a integração regional e, consequentemente, melhorou consideravelmente a presença do público que nos últimos anos rareava, de acordo com as reclamações de vários artesãos de Capelinha.

A Feira de Artesanato

Esse ano o Galpão inovou no já tradicional domingo livre ao servir o “Almoço no Galpão”. Porém, o que marcou mesmo o domingo no Galpão foi a presença da dupla caipira Rio Doce e Mucuri, de Capelinha. Eles deram um verdadeiro show de música caipira para um galpão repleto de pessoas mais simples, oportunizando a elas o acesso ao Galpão e ao estilo musical que mais lhe agradam.


Rio Doce e Mucuri

Quanto aos aspectos que mais mereceram a reclamação do público foram o excesso de claridade no ambiente, a falta de cadeiras para o público, a falta de uma decoração condizente com a cultura regional, a exemplo dos anos anteriores, e qualidade sonora sendo esta última quase uma unanimidade.

A claridade do ambiente no momento dos shows, a falta de uma iluminação adequada no palco, a ausência de camarim foram pontuações feitas por diversos artistas. Algumas pessoas também acharam o ambiente demasiadamente claro e lembraram que nos anos anteriores a penumbra dava um certo charme ao galpão. O público reclamou a falta de cadeiras, principalmente para os shows que exigiam maior contemplação. Porém, elas estavam lá. Bastava que os interessados as pegassem. Tudo isso são coisas que podem ser resolvidas nas próximas edições.

 No que se refere à decoração, muita gente sentiu falta dos belos painéis pintados nos anteriores. Nos últimos anos, se tornara uma atração à parte. Segundo me informou alguns integrantes da organização responsável por esse quesito, este ano não foi possível fazê-los dada a temática da Cafeicultura e devido ao elevado custo da reforma do Galpão, havendo a necessidade de se atender as exigências de  patrocinadores. E os frequentadores do Galpão esperam que nos próximos anos a decoração com motivos culturais regionais volte a ser a tônica do ambiente. Muita gente pensa que isso não será possível dada a qualidade estrutural do Galpão e uns até argumentam que o Galpão está tomando o mesmo caminho da cidade ao se modernizar sem levar em conta a preservação de prédios antigos. Mas no caso do Galpão, isso é perfeitamente possível, pois já presenciei diversas exposições no Palácio das Artes em Belo Horizonte, que deixava o público com a sensação de estar encravado no meio de um arraial perdido no Vale do Jequitinhonha ou na beira das barrancas do São Francisco, sem nenhum prejuízo às suas características modernas.

Muitos artistas reclamaram que a logomarca do patrocinador estava realçando mais que o próprio artista em foco. Entendo que o patrocínio deve sim, ser destacado, mas um pouco mais de sobriedade talvez o coloque com maior evidência positiva.

O som e a qualidade de seus operadores tem sido, de forma justa, alvo das maiores reclamações durante todas as edições. Cabe ressaltar que não se trata de colocar em xeque os proprietários de som ou as pessoas que operam os equipamentos. O que se percebe é que os técnicos de som parece não estarem preparados para atuar nesse tipo de evento, explorando o melhor de seus equipamentos. Isso ficou notório ao se comparar a qualidade sonora dos shows de Jéssica Souza, Jederson Cordeiro e Walter Dias com os shows anteriores a eles. Pude aferir que os conhecimentos técnicos do profissional da música Walter Dias possibilitou uma melhor qualidade sonora no ambiente, atestada por todos.

Maria Letícia
Na minha opinião, os maiores prejudicados pelo som foram Fátima Neves, o Coral Vozes das Veredas e, principalmente, Maria Letícia. Dou uma ênfase maior a esta última porque entendo que ela  foi a maior prejudicada, entre todos os shows do Galpão.

Foi uma pena o público não ter tido a oportunidade de apreciar o trabalho autoral de Maria Letícia. Insisto em dar ênfase a ela por sua ousadia em ir contra ao establishment musical que impera na nossa sociedade ao trazer para um espaço como o Galpão composições próprias e de muita qualidade. Essa ousadia é própria dos artistas que buscam identidade própria e criatividade acima da média. É natural que sofram todas as agruras próprias de quem busca o lugar ao sol, mas quando ultrapassam as barreiras costumam brilhar intensamente. Um exemplo dessa ousadia é Pedro Morais, que começou sua trajetória impondo o seu repertório e o seu próprio modo de ser e de cantar.

Para eliminar essas discrepâncias, sugiro aos responsáveis pelas licitações do som para o Galpão Cultural procurarem enumerar nos editais quais os equipamentos mínimos necessários para que o espaço tenha uma sonorização digna de sua fama e de sua qualidade ambiental. Digo isso porque o responsável pelas finanças da prefeitura não tem a obrigatoriedade de entender e conhecer quais os mecanismos técnicos para se ter um som de qualidade e, dado a sua condição de cuidar das finanças da prefeitura, sempre escolherá nas licitações o melhor preço apresentado. Sabemos que o melhor preço nem sempre reflete a melhor qualidade.  Em contrapartida, os organizadores responsáveis pela contração de shows e de som informam que a estrutura de som para o Galpão atende a voz e violão. Muitas vezes os artistas teimam em querer trazer instrumentos que não condizem com a estrutura de som, como guitarras elétricas, baixo dentre outros. Quando estes artistas insistem em trazer tais equipamento, o responsável pela sonorização orienta que fica na responsabilidade do artista qualquer outro equipamento que necessite para melhorar a sua apresentação. Porém, não parece ter sido o caso dos equipamentos alugados para esse ano.

Talvez se os proprietários de som fizessem cursos de aperfeiçoamento acústico e de sonorização os problemas resolveriam em grande parte porque a maioria deles são pessoas atenciosas e comprometidas com os artistas que se apresentam.  Por causa das apresentações do Coral de Veredinha no Galpão, adquiri dois microfones apropriados para o canto coral, no entanto os operadores não possuem conhecimentos técnicos que nos orientem qual a melhor maneira de se posicionar no palco.

Outra pequena intervenção que ajudaria na melhoria da qualidade visual e estética das apresentações, principalmente as bandas de músicas e as intervenções culturai feitas pelos grupos locais, seria a construção de pequenos tablados que possibilite o aumento da área de palco e que os sons contratados disponibilizem microfones próprios para captação de som ambiente.

Merece destacar o apoio dos Fundos Municipais de Turismo e do Patrimônio Cultural aos grupos que se apresentaram no Galpão e a vigilância do COMAD-Conselho Municipal Antidroga e do Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente para que não se comercializasse bebidas alcóolicas para menores de 18 anos.
 
A primeira-dama Conceição Vieira com a banda Odilara

Mas quem merece parabéns e louvores mesmo é a equipe responsável pela organização estrutural do Galpão comandada pela primeira-dama Conceição Vieira, criatura incansável e com uma disposição juvenil e bom humor durante todas os nove dias e noites; Lu Vieira, Secretário Municipal de Assistência Social e responsável pelo barzinho; Branca Alcântara, Secretária Municipal de Cultura e Turismo, responsávbel pela contratação e organização dos shows e grupos culturais. Além deles, merece elogios as assistentes da organização Fátima Arantes e Cula Sampaio, além de todo o pessoal que atuou na cozinha, no atendimento ao público seja nas mesas, no balcão, nos sanitários ou no caixa pela qualidade de serviços oferecida.


Elisângela Alcântara (Branca) com Tadeu Oliveira

Outro fato importante foi a cobertura sistemática de tudo que ocorreu no Galpão, pelo menos por dois blogs, o Canta Minas e o Blog do Reginaldo.

O mais importante de tudo é que o galpão tem proporcionado o surgimento de novos valores, aconchego para o público que cada vez mais crescente, além do fortalecimento da identidade cultural capelinhense e, por consequência,  da identidade regional.
E antes que eu me esqueça, também é digno de nota a bela e justa homenagem feita a uma baluarte da Educação em Capelinha e que deu também a sua contribuição no movimento cultural. Trata-se da professora Maria Odeth Sampaio, conhecida na intimidade por Deth Sampaio.

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